dai-me lumes: os saltimbancos de telaviv e a caderneta dos riffs

Sacando ainda umas ramelas e bocejando à vez, vamos olhando os putos na mesa da frente por entre uma dentada num panito e mais uma golada no Tang laranja.
Descemos há pouco à cave do hotel para mordiscar o que haja.
Os coveiros também por cá andam, hoje escondem-se do sol.
Ameaço um sorriso e com um ameaço de sorriso se vão.
O sol morde-nos forte no pêlo e a fonte da praça-mor é a nossa melhor amiga.
Por debaixo dos cabedais negros, o gangue dos coveiros não se deixa molestar p'la torra e lá vai descobrindo LPs do cancioneiro xunga-baladeiro da França dos oitentas e fotonovelas kitsch do Brasil dos setentas nas bancas de velharias que cercam a fonte.
O Pedro lá aparece e apontamos ao tasco das moelas. À chegada, o que temos para morder é a maçaneta da porta.
Rua acima, rua abaixo e lá nos safamos com uns pitos do pingo-doce.
À saída, somos prontamente demovidos por duas locais da nossa estatapafúrdia ideia de ir a banhos no rio.
"Foda-se, não sois meeeeesmo de cá!", dizem-nos!
"Se quereis que vos caia o cabelo..."
Nope!
Esposende é já na curva, bamo-nos!
Estranhamos o empiriquitanço das miúdas para ir a banhos, a não ser que haja enlace na praia.
Cafézito, moscatel, baforadas com quitanço e andemos que o calçanito quer-se molhado!
Não tardamos em chegar ao motivo de tal empratamento. O vendaval na praia é de arrancar o rimel e a base-betume.
A água queima, mas de gelada!
Nenhuma das miúdas chegará a tirar o vestidinho ou a sentir-se arreliada com a areia nos entrefolhos. E a melhor roupita é para o domingo.
Se não a mostram na missa, mostram-na na praia!
Para nós, nem rio, nem mar!
Seguimos para a missa!

Há bandolas que nos ficam. Não me ficam as giras!
Dessas não reza a missa!
Os Riding Pânico são rapazes com a pala toda.
Pose de manual, braços cheios de desenhos, calcita da irmã e tal e coiso.
Giros!
Os disquitos são giros, assim uns GYBE! com menos ideias p'la manhã e uns Isis sem voz ao entardecer.
Mas se na rodela, a coisa é mais do mesmo, nas tábuas, a coisa dá-se!
Ou dava-se!
E dava-se antes de sair um dos guitarristas (o mais criativo!) e o baterista.
Quando os apanhei há uns tempos, tentaram enganar a malta com um sax muito para lá de azeitola e um baterista amigão que mais não fez do que arruinar com a sua mestria, o que BB teimava em não complicar.
Hoje está por cá o Jorge, o tal guitarrista que enche o palco (que para lá das calças cuidadosamente rasgadas, caga na pose!), mas cada um toca para si e o barbaças dos Paus, nem para ele mesmo. Se se ouvisse, saia de surra e aparecia lá para 2027 a tocar ferrinhos. Ou não!
Nem giros, pá!

Lá p'las sete, a piscina ainda chama p'la vilanagem.
Poucos resistem e os Extraperlo tocam para dez ou quinze, mais três amigos que bailam na grade.
Dizem que é coisa a atirar para uma de pop feel good, eu digo que é coisa de pop feel sleeppy!
Quero uma geladinha e um estoiro nos tomates!







Os Ghost of a Thousand fazem-me a vontade e ainda nos estalam umas galhetas.
Dizem-nos que é só rock n' roll e pedem-nos para bailar e pinchar à parva, que nunca é tarde para ser tolo.
Às tantas, o rapaz do grito junta-se ao bailarico deste lado da grade e conhecemo-nos todos do pub já de há muito.
Viramos pints de hardcore e shots de rock n' roll, e já tocados lá nos diz para afrouxar, que pisamos um concrete floor.
Não feches tu o bar, que a gera lá se importa de rachar a testa!



Foi numa "crack house" em LA que os Year Long Disaster engendraram a coisa.
E na tela destes senhores, as cores são as do bom e velho róque, com pinceladas dos sessentas e rabiscos dos setentas!
Fazem-no bem sem fazer mossa, que não é a isso que eles andam.
Batemos o pézito, gingamos o quadril e matamos mais um pipe.
A voz de Daniel Davies não nos chega, mas o que nos chega sabe-nos bem!





Bo Ningen é bicho curioso!
É prato cheio!
É família feliz do chinês com cozido à portuguesa e pós de kraut.
É posta à mirandesa com sarrabulho de entrada regado a prog.
É sushi com caril noise, um fio de math-rock e espuma de experimentação psych.
São cozinheiros de mão cheia, estes japas escanzelados.
Jogam com os sabores, confundem-nos e desafiam-nos o palato.
Deixam-nos salivando p'lo prato que segue.
Deixam-nos de papo cheio, mas capazes de enfardar a ponto de rebentar.
Prato cheio!







Já conhecemos estas caras de há pouco e destas mesmas tábuas.
Mas se há pouco nos serviram um róque que não nos deixou mazelas, agora a bandeja transborda de róque paulada-de-criar-bicho!
É riff e mais riff parte-queixo, é bateras com mais braços que um polvo, é mais róque em três ou quatro minutos que muitas bandolas numa vida.
Os Karma to Burn podiam encher os bolsos a vender riffs a bandolas carentes.
Mas o que eles gramam mesmo é pisar as tábuas e esfregar-nos no focinho, que nós, desta coisa do róque, não sabemos um cu!
Foda-se, sabem da poda estes senhores!







Não há pai nem palco para os Monotonix!
Nem país ou pátria, que isto o mundo não é palco que chegue!
Isto é gig nómada, é montar a banca onde bem lhes apetece e zarpar logo de seguida, que bom, bom, é correr com tudo atrás e flutuar por cima das cabeçorras da vilanagem.
Bom é dar cambalhotas e desancar num bombo que levita.
E agora, bom, bom, é mergulhar ali do muro cá para baixo, que isto de cambalhotas já não chega!
Os putos empurram-se uns aos outros para ver quem leva o bombo e lá seguem na cola de quem sabe.
P'lo meio de tanto número e carta de trunfo, há tempo para petardos garageiros da velha escola Stooges/MC5 e rockada do desvario Lightning Bolt-mode.
Monotonix é O circo e os palhaços somos nós.
E isso é do melhor!



Toro Y Moi é pop para bolinhas de sabão e para fazer o amor fofinho.
Dá-nos nuvens de algodão-doce e pede-nos carinhos.
Aprecio a meiguice, mas depois de Karma to Burn, fiquei bruto!





Os Za! são um tiro numa veia do pescoço com seringa partilhada.
São ácido marado que nos sacode o corpo e nos baralha o tino.
São viagem demorada sem bilhete de volta à terra.
São ressaca de bagaço curada a disparos de scotch martelado.
São catalães da puta-mãe!
São do caralho e dão-nos uma sova de cinto.
Só para termos aquele gostinho bom de nos sentirmos vivos!

Vivo em nós, ficará o Milhões!
Vemo-nos para o ano?

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