dai-me lumes: o negrume ainda mói vs. a meia-de-leite clarinha

Às nove gritadas p'lo despertador, respondo com uma galheta pronta.
Abro ainda um olho, esperando um sim que não quero ouvir. Vamos? Não!
Isso!
Sou acordado p'las meigas mãos da minha senhora que já há uns minutos se deixara de preguiças e tinha descido para trazer um aconchego para a pança.
Desço enquanto se ducha para uma olhada na vizinhança.
Na esplanada da frente, dois coveiros trajados de negro viram os restos do festim da noite passada. Acelero o passo direito a eles, vieram para me buscar?
Já junto deles, solto um "Olá! Esperámos muito por vós. Porreiro terem vindo!"
"Thanks mate!"
O negrume de ontem é hoje sorrisos e meias-de-leite clarinhas.
Uma cara tatuada e uma careca reluzente emparelhada com uma barba daqui-a-Tóquio, fazem quem passa olhar uma e outra vez. Nas mesas do lado já as avózinhas se ocupam de outras conversas, já os putos correm frenéticos sem apontar o dedo. Já os Electric Wizard são gente como nós. E até gramam do nosso sol!
Chegado ao fundo da rua, volto para trás. Não há muito que ver.
Aceno à esplanada na volta, há braços que se erguem, gente como nós!
Subo ao quarto e de pronto descemos na procura de um tasco amigo do bucho e do bolso.
Não é busca que demora, numa mirada rapidinha aos rabiscos em toalha de papel já nos sentámos!
Verde-tinto, 100 paus de rissóis, almoçarada farta-brutos. O que se quer!
Há tempo para uma esticadinha até as seis.
Isso!



Sopra um vento áspero lá dos lados do cimento.
Largamos a relva e pisamos chão mais duro.
Há odor a erva e madeira queimada, a pó e gasolina ardida. Há rapazes novinhos e de poucas falas. E muito rock!
Há uma barba e guedelha a dar para os três e uma mirada longa ao deserto Kyuss onde estes miúdos Aspen nos apontam os cactos que nos matam a sede.
E se matam!
Morde forte este sol!





Deixamo-nos cair no verde olhando o céu azul, damos uma espreguiçada e outra mais.
De espiga de trigo na boca e chapéus de palha na cabeça, somo olhados ao desafio p'los cães-da-pradaria.
Cresce em mim uma barbucha amish e tranças longas em minha senhora.
Já sem sandálias, esfregamos os pés no verde e lançamos mão ao cesto para um pedaço de apple pie e uma soda.
É um Long Way to Alaska, mas sabe tão bem deixarmo-nos ir!

Um Cavalheiro à séria não nos senta à mesa para Interpol de quinta e verborreia lírica de sexta!
Já não os há como antes!

Tem coice fraco, o electro-oitentas deste Appaloosa.
Não tentamos sequer selá-lo, p'lo relinchar não nos levará sequer ao cimo da ladeira.
Por nosso pé chegamos ao tasco amigo de antes (esse!). Trocamos palavras e planos por entre moelinhas do demo e cervejolas dos deuses.
São o amor, estes nossos miúdos do Porto.

Dias há em que estes moços são ovelhas do rebanho XXX.
Uns em que são pintarolas do rock garageiro de Sagres na mão e Águia nos beiços.
Outros há em que o que rola é hardcore-petardo para miúdos com testa.
E outros mais em que, bom mas bom, é rock de estádio.
Amanhã não sabem!
Há quem os sinta como uns Battles tuga, o que não vindo ao disparate, tem gostinho a má vontade.
Há Trans Am e afrozada Konono Nº1.
kraut e baixo do arrasto.
Há teclas que gritam os dois mil e não os oitentas.
Há vontade de fazer diferente e acendalhas atiradas a fazer-nos crer em tal.
As moelinhas demoram-nos e já só agarramos o fim da festa Paus. Juntam-se no estrado uns amigos, para que saibamos que ainda cá estão.
O amanhã é agora, porque amanhã pode não haver.
E hoje é aqui que todos dançamos, amanhã logo vemos!

Alto! e para o baile!
Já comemos disto por aqui.
E a este dançarino, já o vimos noutras paróquias.
Este rebolar não é de agora e a carta e a de mil tascos.
É abrir com outro nome, e chega-lhe mais do bifinho aux champignons e bacalhau com natas de ontem.
Já não vai!







Mark E. Smith é The Fall e The Fall é Mark E. Smith.
The Fall é pós-punk sem merdices para gente que não as quer.
Hoje, Mark E. Smith está cheiinho de merdices.
Aumenta e baixa o volume dos amps porque sim, melga a rapaziada e rapariga (de pochette!!!?) da bandola porque não. Atira micros ao chão, vai e volta e torna a ir!
Ainda conseguimos ouvir um pouco do que interessa, mas o Mark percebe que até estamos a gostar e vai de vez.
Da próxima, mudamos-te a fralda, Mark!

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