quem quer comprar o ritz clube?

Era uma sala de concertos à moda antiga. Tal como o seu vizinho Maxime, foi também um cabaret no tempo da outra senhora. Já com a Caixa Económica Operária partilhava uma varanda-galeria que proporcionava uma vista privilegiada sobre o palco e a plateia. Antes de Santiagos Alquimistas, MusicBoxes, quando a ZdB ainda era uma criança e o Maxime ainda não tinha sido reabilitado, aquilo era um fartote de matinées hardcore e concertos dos Catita e quejandos a durarem três horas, com "o ananás não é uma banana" a ser repetido ad nauseam. E era o tecto que ameaçava ruir, com aquela racha de aspecto ameaçador, o suor que condensava para depois chover sobre o público, os vidros que tremiam que nem varas verdes ao ritmo das descargas decibélicas. Se calhar era por isso que os concertos no Ritz sabiam sempre melhor. Era a ameaça do perigo eminente e a sensação de alívio/vitória no final, por, mais uma vez, termos escapado ao soterramento.
Que não restem dúvidas que as obras de recuperação eram uma necessidade imperativa para que tantos como eu pudessem usufruir daquele espaço sem sobressaltos. Em 2000 o Ritz fecha as portas com a promessa de reabertura após as tão necessárias e desejadas obras. Que não passou disso mesmo. As obras ficaram-se pelo invólucro e reabertura nem vê-la. E assim se passaram nove anos.
Até hoje, quando se soube pelo blogue Fórum Cidadania Lisboa, via jornal Público, que o Ritz Clube está oficialmente à venda, continuando a precisar de "obras totais". A dúvida persiste: mas está a venda para quê? Com que finalidade? É para manter como sala de espetáculos ou será que vão permitir o desvirtuar e descaracterizar de mais um mítico espaço lisboeta?
Gente de bem, que goste de boa música e boa cultura em geral, e que tenha 1 500 000€ (ou 1,5 milhões de euros se preferirem) para gastar, faça o favor de se chegar à frente.

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