supersonic pt. 3 - dia 13
Einstellung
Com menos um palco a funcionar, o nosso segundo dia de festival afigurava-se relativamente mais tranquilo.
As honras de abertura couberam aos Einstellung, rapazes da terra, que contam nas suas fileiras com Steve Hough, ex-membro de digressão dos Godflesh. Rock instrumental rasgado, com umas pitadas de post-rock, shoegaze e kraut para boa medida, que acaba por se tornar um pouco monótono após exposições prolongadas, mas que funcionou bastante bem nos cerca de 45 minutos que durou a actuação da banda.
Transitional
Após ter acordado ao som dos Einstellung, seguir-se-iam as duas últimas faixas interpretadas pelos Transitional, projecto de Kevin Laska e Dave Cochrane (colaborador de Justin K. Broadrick e também membro dos The Courtesy Group). Pelo que me disseram, cheguei na parte mais monolítica do concerto. Os meus companheiros, que viram mais que eu, notaram algumas semelhanças com Jesu... Porque será?
Max Tundra
De volta ao palco exterior, o OVNI do dia: o pequeno e saltitante Max Tundra, com a sua pop electrónica. Alegria e dinamismo para dar e vender, mas o facto é que me encontrava numa disposição bem mais doom/roqueira. Havia que partir para outra.
Orthodox
Numa manobra digna de ping-pong (saltitar entre estes dois palcos foi o prato forte do dia), lá voltámos ao Space 2, onde os Orthodox se preparavam para iniciar a sua prestação.
Falar em gran poder quando nos referimos a estes tipos é estar a subestimá-los. Muy gran poder talvez seja mais adequado. Um concerto monumental, que, quanto a mim (e após o concerto no Porto, aqui há uns meses atrás), os confirma como uma das propostas mais válidas e interessantes da música espanhola.
Parts & Labor
"Fractured Skies"
Era então chegada altura de um dos momentos mais aguardados do dia, a actuação dos Parts & Labor. E tão grandioso evento requeria uma localização à altura, pelo que fomos marcar lugar para a grade com uns 10 minutos de antecedência, apenas para nos depararmos com um cenário desolador: a larga maioria dos britânicos têm alergia às grades, mas, mais do que isso, têm alergia a qualquer proximidade ou contacto com as bandas. Se é por desconhecimento, falta de interesse, timidez ou desdém, isso já não sei. Foi preciso um pedido do baixista B. J. Warshaw para que o público, finalmente, se aproximasse do palco. Voltando ao que interessa...
Os Parts & Labor dão um espetáculo do catano. Simples, directo, sem artifícios e extremamente eficaz. Tal como a sua música, que é, quanto a mim, do melhor que para aí se tem feito nos últimos tempos (quem acompanha este blogue com alguma regularidade concerteza que já o terá notado). E o novo elemento da banda, a mui jeitosa Sarah Lipstate (o contigente masculino da nossa entourage concordou), assenta ali que nem uma luva. Em suma, foi tanto um previlégio como uma honra poder, finalmente, assistir a um concerto destes senhores e senhora.
Asva
Seguiu-se outro dos pontos altos deste Supersonic, a cargo dos Asva (que se encontravam instalados no mesmo hotel que nós, naquilo que eu gosto de chamar 'partilhando os elevadores com as estrelas'), que nos presentearam com a sua hábil e singular simbiose entre momentos de maior negrume e outros mais planantes. Excelente equilíbrio num concerto nada menos que grandioso.
Errors
Enquanto o concerto seguinte no Space 2 não começava, ainda houve tempo para fazer uma perninha no palco exterior, onde os Errors iriam actuar. Mais uma vez, só a pedido de um dos elementos da banda é que se notou alguma movimentação do público em direcção ao palco.
Deveras interessante a mescla sonora praticada por estes rapazes, conjugando o math-rock com alguns elementos das electrónicas (pelo que me foi dado a perceber em audições anteriores ao concerto, isto do math-rock é uma coisa relativamente recente na carreira da banda), no que provou ser um contraponto bastante agradável no meio de tanto peso.
Earth - "Omens and Portents II: Carrion Crow"
O relógio não parava, e estava na hora de regressar ao Space 2 para o desejadíssimo concerto dos Earth: era a vingança daquele malfadado exame de Biologia Molecular que não me permitiu ir à Casa da Música!
Se é certo que, em certa medida, a banda abandonou algum do seu drone-imagem-de-marca, bem como uma certa agressividade dos anos iniciais, não menos certo será que este novo caminho encontrado é igualmente interessante. Continuam bem arrastadões, disso não haja dúvida, mas agora incorporam o country e os blues na sua música, num acto que se revela de puro génio. E os resultados estão à vista: um concerto que, mais que irrepreensível e incontornável, foi uma experiência riquíssima.
Red Sparowes
E como não há duas coisas boas sem quatro ou nove, era a vez dos Red Sparowes ocuparem o palco exterior. Verdadeiro esplendor post-metal, que fez as delícias de todos os presentes. Durante pouco tempo, infelizmente, uma vez que estávamos prestes a embarcar numa outra aventura, de proporções não menos épicas...
Fucked Up
Uma pessoa lê tudo o que há para ler sobre o assunto, está bem informada. Até têm plena consciência que algo se passa com os vocalistas obesos dos nossos dias, que os transforma em criaturas extraordinárias, capazes de feitos incríveis.
Mas nada neste mundo (nada mesmo!) nos poderá preparar para o assalto aos sentidos que é uma actuação dos Fucked Up (corroborando esta teoria, vide Les Savy Fav no Primavera Sound). Só mesmo estando lá, presenciando com estes olhinhos que a terra há-de comer, tocando nos pneuzinhos do senhor, vendo o senhor (Damian Abraham, neste caso) rebentando latas de cola light com a cabeça e sangrando profusamente, experienciando na primeira pessoa... Qualquer elogio que se possa fazer é manifestamente insuficiente!... Foi hilariante, poderoso, brutal... E tudo partindo das velhas premissas do hardcore!
Após este portento, tínhamos algum tempo livre, pelo que aproveitámos para ir à zona de merchandising adquirir alguns recuerdos (Parts & Labor e Fucked Up foram os meus eleitos) e repousar, para nos prepararmos para os três últimos concertos do festival (a minha máquina ficou tão emocionada com os Fucked Up, que se lhe acabou a bateria, acabando-se também assim o meu registo audiovisual deste Supersonic).
Começaríamos esta recta final com os Kikuri, que numa única palavra, me causaram medo. Eu gosto de pensar que sou uma pessoa bastante tolerante, mas aquilo que estes dois japoneses fazem é, pura e simplesmente, inaudível (para isso muito contribui o facto do som no Space 2 estar estupidamente alto. Outras bandas, também nesse palco, sofreram desse mesmo problema).
Passaríamos então a Gravetemple, no único momento não-ping-pong do dia. Confesso que não sabia bem o que esperar destes tipos. Ou melhor, não sabia de todo o que esperar: tinha conhecimento que estavam lá as luminárias todas e as referências pareciam-me bastante atractivas, mas nem sequer me dei ao trabalho de os ouvir antes da viagem. Quanto a mim, pecaram em dois aspectos. Ou pequei eu: faltou-lhes o Julian Cope (não sei se faria realmente falta, eu é que tinha curiosidade em ver como eles funcionariam com o Mr. Cope) e a exaustão não perdoou tanto drone, tanto arrastanço e tanto cântico xamânico juntos... Mas que eles são bons, lá isso são!
Ainda uma breve, e última, passagem pelo palco exterior, para dar uma espreitadela aos Harmonia, nome maior do krautrock. Talvez esteja a cometer um pecado mortal ao dizer isto, mas estes respeitáveis senhores não me trocam os peúgos. Assim, regressámos ao Space 2 e aos Gravetemple, para fazer o nosso ritual de despedida metalhead (é uma coisa com piada, mas contado perde a graça toda).
E assim terminou a nossa primeira edição do Supersonic, com uma imensa sensação de satisfação e de missão cumprida.
Tal como não o fiz para o Primavera Sound, neste caso também não vou fazer um top de concertos, uma vez que em eventos deste género, com tanta qualidade, torna-se tarefa quase impossível hierarquizar as coisas... Como já dizia a minha avózinha: "O que é bom nunca falha!".
Até para o ano!!
Com menos um palco a funcionar, o nosso segundo dia de festival afigurava-se relativamente mais tranquilo.
As honras de abertura couberam aos Einstellung, rapazes da terra, que contam nas suas fileiras com Steve Hough, ex-membro de digressão dos Godflesh. Rock instrumental rasgado, com umas pitadas de post-rock, shoegaze e kraut para boa medida, que acaba por se tornar um pouco monótono após exposições prolongadas, mas que funcionou bastante bem nos cerca de 45 minutos que durou a actuação da banda.
Transitional
Após ter acordado ao som dos Einstellung, seguir-se-iam as duas últimas faixas interpretadas pelos Transitional, projecto de Kevin Laska e Dave Cochrane (colaborador de Justin K. Broadrick e também membro dos The Courtesy Group). Pelo que me disseram, cheguei na parte mais monolítica do concerto. Os meus companheiros, que viram mais que eu, notaram algumas semelhanças com Jesu... Porque será?
Max Tundra
De volta ao palco exterior, o OVNI do dia: o pequeno e saltitante Max Tundra, com a sua pop electrónica. Alegria e dinamismo para dar e vender, mas o facto é que me encontrava numa disposição bem mais doom/roqueira. Havia que partir para outra.
Orthodox
Numa manobra digna de ping-pong (saltitar entre estes dois palcos foi o prato forte do dia), lá voltámos ao Space 2, onde os Orthodox se preparavam para iniciar a sua prestação.
Falar em gran poder quando nos referimos a estes tipos é estar a subestimá-los. Muy gran poder talvez seja mais adequado. Um concerto monumental, que, quanto a mim (e após o concerto no Porto, aqui há uns meses atrás), os confirma como uma das propostas mais válidas e interessantes da música espanhola.
Parts & Labor
"Fractured Skies"
Era então chegada altura de um dos momentos mais aguardados do dia, a actuação dos Parts & Labor. E tão grandioso evento requeria uma localização à altura, pelo que fomos marcar lugar para a grade com uns 10 minutos de antecedência, apenas para nos depararmos com um cenário desolador: a larga maioria dos britânicos têm alergia às grades, mas, mais do que isso, têm alergia a qualquer proximidade ou contacto com as bandas. Se é por desconhecimento, falta de interesse, timidez ou desdém, isso já não sei. Foi preciso um pedido do baixista B. J. Warshaw para que o público, finalmente, se aproximasse do palco. Voltando ao que interessa...
Os Parts & Labor dão um espetáculo do catano. Simples, directo, sem artifícios e extremamente eficaz. Tal como a sua música, que é, quanto a mim, do melhor que para aí se tem feito nos últimos tempos (quem acompanha este blogue com alguma regularidade concerteza que já o terá notado). E o novo elemento da banda, a mui jeitosa Sarah Lipstate (o contigente masculino da nossa entourage concordou), assenta ali que nem uma luva. Em suma, foi tanto um previlégio como uma honra poder, finalmente, assistir a um concerto destes senhores e senhora.
Asva
Seguiu-se outro dos pontos altos deste Supersonic, a cargo dos Asva (que se encontravam instalados no mesmo hotel que nós, naquilo que eu gosto de chamar 'partilhando os elevadores com as estrelas'), que nos presentearam com a sua hábil e singular simbiose entre momentos de maior negrume e outros mais planantes. Excelente equilíbrio num concerto nada menos que grandioso.
Errors
Enquanto o concerto seguinte no Space 2 não começava, ainda houve tempo para fazer uma perninha no palco exterior, onde os Errors iriam actuar. Mais uma vez, só a pedido de um dos elementos da banda é que se notou alguma movimentação do público em direcção ao palco.
Deveras interessante a mescla sonora praticada por estes rapazes, conjugando o math-rock com alguns elementos das electrónicas (pelo que me foi dado a perceber em audições anteriores ao concerto, isto do math-rock é uma coisa relativamente recente na carreira da banda), no que provou ser um contraponto bastante agradável no meio de tanto peso.
Earth - "Omens and Portents II: Carrion Crow"
O relógio não parava, e estava na hora de regressar ao Space 2 para o desejadíssimo concerto dos Earth: era a vingança daquele malfadado exame de Biologia Molecular que não me permitiu ir à Casa da Música!
Se é certo que, em certa medida, a banda abandonou algum do seu drone-imagem-de-marca, bem como uma certa agressividade dos anos iniciais, não menos certo será que este novo caminho encontrado é igualmente interessante. Continuam bem arrastadões, disso não haja dúvida, mas agora incorporam o country e os blues na sua música, num acto que se revela de puro génio. E os resultados estão à vista: um concerto que, mais que irrepreensível e incontornável, foi uma experiência riquíssima.
Red Sparowes
E como não há duas coisas boas sem quatro ou nove, era a vez dos Red Sparowes ocuparem o palco exterior. Verdadeiro esplendor post-metal, que fez as delícias de todos os presentes. Durante pouco tempo, infelizmente, uma vez que estávamos prestes a embarcar numa outra aventura, de proporções não menos épicas...
Fucked Up
Uma pessoa lê tudo o que há para ler sobre o assunto, está bem informada. Até têm plena consciência que algo se passa com os vocalistas obesos dos nossos dias, que os transforma em criaturas extraordinárias, capazes de feitos incríveis.
Mas nada neste mundo (nada mesmo!) nos poderá preparar para o assalto aos sentidos que é uma actuação dos Fucked Up (corroborando esta teoria, vide Les Savy Fav no Primavera Sound). Só mesmo estando lá, presenciando com estes olhinhos que a terra há-de comer, tocando nos pneuzinhos do senhor, vendo o senhor (Damian Abraham, neste caso) rebentando latas de cola light com a cabeça e sangrando profusamente, experienciando na primeira pessoa... Qualquer elogio que se possa fazer é manifestamente insuficiente!... Foi hilariante, poderoso, brutal... E tudo partindo das velhas premissas do hardcore!
Após este portento, tínhamos algum tempo livre, pelo que aproveitámos para ir à zona de merchandising adquirir alguns recuerdos (Parts & Labor e Fucked Up foram os meus eleitos) e repousar, para nos prepararmos para os três últimos concertos do festival (a minha máquina ficou tão emocionada com os Fucked Up, que se lhe acabou a bateria, acabando-se também assim o meu registo audiovisual deste Supersonic).
Começaríamos esta recta final com os Kikuri, que numa única palavra, me causaram medo. Eu gosto de pensar que sou uma pessoa bastante tolerante, mas aquilo que estes dois japoneses fazem é, pura e simplesmente, inaudível (para isso muito contribui o facto do som no Space 2 estar estupidamente alto. Outras bandas, também nesse palco, sofreram desse mesmo problema).
Passaríamos então a Gravetemple, no único momento não-ping-pong do dia. Confesso que não sabia bem o que esperar destes tipos. Ou melhor, não sabia de todo o que esperar: tinha conhecimento que estavam lá as luminárias todas e as referências pareciam-me bastante atractivas, mas nem sequer me dei ao trabalho de os ouvir antes da viagem. Quanto a mim, pecaram em dois aspectos. Ou pequei eu: faltou-lhes o Julian Cope (não sei se faria realmente falta, eu é que tinha curiosidade em ver como eles funcionariam com o Mr. Cope) e a exaustão não perdoou tanto drone, tanto arrastanço e tanto cântico xamânico juntos... Mas que eles são bons, lá isso são!
Ainda uma breve, e última, passagem pelo palco exterior, para dar uma espreitadela aos Harmonia, nome maior do krautrock. Talvez esteja a cometer um pecado mortal ao dizer isto, mas estes respeitáveis senhores não me trocam os peúgos. Assim, regressámos ao Space 2 e aos Gravetemple, para fazer o nosso ritual de despedida metalhead (é uma coisa com piada, mas contado perde a graça toda).
E assim terminou a nossa primeira edição do Supersonic, com uma imensa sensação de satisfação e de missão cumprida.
Tal como não o fiz para o Primavera Sound, neste caso também não vou fazer um top de concertos, uma vez que em eventos deste género, com tanta qualidade, torna-se tarefa quase impossível hierarquizar as coisas... Como já dizia a minha avózinha: "O que é bom nunca falha!".
Até para o ano!!