se ao menos tudo fosse tão simples como nas novelas...

“En Soap”, de Pernille Fischer Christensen

Há dias assim.
Dias em que uma pessoa liga o computador para escrever algo minimamente coerente no blog e não sai absolutamente nada. Dias em que as palavras são meros impulsos eléctricos que perpassam a mente sem qualquer sentido ou ordem aparente. Sem qualquer contexto ou ligação entre elas. Dias em que absolutamente nada faz sentido. Até a consciência do ser, do viver dentro da tua própria pele, a própria experiência de existir parece bizarra e deslocada. Apenas um conjunto de células que se dispuseram aleatoriamente para formar um corpo humano. Não há ordem no caos (apenas caos e desordem), não há efeitos borboleta nem modelos matemáticos que o expliquem. Nada que justifique todo este desencanto. Todo este tédio. O mal de vivre.
Dias em que apenas te apetece quebrar. Um prato, a cara a alguém, as regras, tu própria. E gritar, gritar a plenos pulmões, gritar até ficares afónica, até não poderes mais. Gritar para toda a gente ouvir, para ninguém em particular, para o vazio. Não interessa o quê. Gritar interiormente. Gritar sem som e sem palavras. Gritar o silêncio. Gritar e correr. Correr sem destino. Correr, correr, correr, até que os teus músculos rebentem, até que o teu coração expluda, até que o oxigénio nos teus tecidos se esgote e tu não consigas mais respirar. Até à exaustão.
Dias em que não apetece sair de casa para arejar as ideias. Dias em que não apetece ficar em casa embrenhada em pensamentos disconexos. E, se finalmente te consegues forçar a sair, se há algo que te impele a enfrentar uma sessão de cinema. E se o filme consegue recriar tão perfeitamente o que estás a sentir naquele exacto momento, todo esse sentimento de angústia e estranheza, então não há como não ficar com um sorriso nos lábios. After all, it was just one of those days.


Nota: Escuso-me a comentar a data que hoje se celebra, pois a cada ano que passa o seu significado se dilui mais na modorra.
Mas eu não a esqueci...

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