primavera no porto: prós & contras

Por esta altura já não será novidade para ninguém que o festival catalão Primavera Sound terá um tomo português: o Optimus Primavera Sound, a decorrer na cidade do Porto entre 7 e 10 de Junho do próximo ano.
Como era expectável, ao cheiro da notícia, logo os indie-lusos pularam de alegria, imbuídos de orgulho pátrio (e musical). Eu cá, sendo naturalmente céptica, tenho algumas reservas, embora não possa também deixar de manifestar o meu contentamento relativo a certos aspectos da coisa. Esmiucemos pois os motivos da minha (des)crença, em formato fatimacamposferreiresco:

A localização - PRÓ. Um dos aspectos deste festival que me traz mais satisfação é, muito provavelmente, a sua localização. Não só porque eu sou pela descentralização, como também porque a Invicta não fica a dever nada à capital em termos de acessibilidades, transportes, infraestruturas, cultura, lazer, dinamismo e ambiente geral. Em alguns destes aspectos, é até perfeitamente lícito dizer que o Porto terá suplantado Lisboa. E não nos esqueçamos da projecção além-portas que o evento trará à cidade.

O cartaz - CONTRA (e um bocadinho PRÓ). Quando a esmola é muita, eu desconfio. Recordam-se daquela história de um tal SXSW que poderia vir a acontecer também no Porto, mas que, afinal, não passava de uma espécie de feira de tecnologia, e do qual nunca mais se ouviu falar?
Não será esse o caso nesta situação, já que a coisa vai mesmo para a frente e até já há um cartaz que vai somando nomes dia-sim-dia-sim. Trocando por miúdos, até à data temos o seguinte panorama:

Beach House, Björk, Codeine, Death Cab for Cutie, Explosions in the Sky, Jeff Mangum, Neon Indian, showcase da Numbers com Jackmaster, Oneman, Deadboy, Spencer e Redinho, Other Lives, Shellac (verdadeira surpresa. Estranho seria se os Shellac não tocassem num festival com a chancela Primavera Sound. Aguardem ainda as confirmações de Atlas Sound e/ou Deerhunter, e Animal Collective e/ou Panda Bear), Siskiyou, Spiritualized, The Dirty Three, The Drums, The Olivia Tremor Control, The Walkmen, The XX, Veronica Falls, Washed Out, Wilco, Yo La Tengo.

Nada de muito extraordinário ou entusiasmante, em minha modesta opinião. Analisando a oferta friamente, verificamos que, na sua larga maioria, se tratam de nomes que, ou já passaram pelo nosso país, ou, em qualquer outra situação, poderão perfeitamente vir a passar, a breve termo, por uma qualquer sala de espetáculos portuguesa. My point being, não seria necessário um Primavera Sound para os trazer cá. Curioso que ainda hoje se gabem de "risco" e "ecletismo" (vide dossier de imprensa), quando há muito que a organização do festival deixou de correr riscos com a contratação de propostas mais ousadas, optando antes pela uniformização/ padronização e pelos valores seguros.
Longe vão os tempos em que o Primavera apostava em nomes como Isis, Om, sunn 0))), Jesu, Boris, Black Math Horseman ou Moho, pautando-se agora, quase exclusivamente, pela batuta da pop e do rock independente. Ainda assim, este ano houve um sinal de esperança, com o anúncio dos Godflesh para o capítulo catalão do festival. Que, a par dos Archers Loaf e dos Mudhoney (por enquanto, também só em Barcelona), constituem, quanto a mim, as três propostas mais interessantes do actual cartaz. O que levanta outra questão. Será que o Optimus Primavera Sound guarda alguns ases na manga? Ou será antes que se vai fazer dos restos do congénere? Comparando os actuais cartazes, observa-se que há já alguns nomes a ficar pelo caminho. E mais questões se levantam. Será que também vamos ter por cá mais de 150 bandas? Ou será que este festival não passa de um parente pobre do original? Considerações aparte, darei o meu veredicto final quando estiver na posse de todas as informações. Isto é, ambos os cartazes completos. Porque, como diria o outro, prognósticos só depois do jogo.
Resumindo e concluíndo, tendo vindo a afastar-me progressivamente do critério estético e artístico seguido pela organização do Primavera Sound nos últimos anos, duvido que ainda me venham a supreender (leia-se, que me façam gastar dinheiro num bilhete). Não acredito em reviravoltas mirabolantes, mas estou aqui de peito feito, pronta para que me desmintam. Sejam quais forem os próximos desenvolvimentos, este festival não deixa de ser uma grande notícia para os indie-lusos que anseiem por uma batelada de concertos num curto espaço de tempo.

Os bilhetes - PRÓ (e um bocadinho CONTRA). Talvez se venha a revelar um parente pobre do original, mas a verdade é que este Optimus Primavera Sound é, sem sombra de dúvida, uma versão bem mais económica do San Miguel Primavera Sound. Com a troika a escarafunchar-nos o bolso, a malta agradece!
Convenha-se que as perspectivas não eram nada animadores, com o preço final do bilhete para a edição de 2011 do festival catalão a roçar perigosamente uns astronómicos 200€. Mas podemos finalmente respirar de alívio, agora que sabemos que, por cá, o bilhete custa, até 31 de Dezembro, 75€ + taxas (houve ainda uns 1000 bilhetes early bird a 65€, que esgotaram num ai), enquanto que, em Barcelona, este atinge amanhã a marca dos 170€ + taxas.
Por outro lado, o facto de me ter afastado da estética deste festival fez com que deixasse de confiar cegamente nestes senhores, a ponto de lhes pôr os meus tostões nas mãos sem um cartaz completo, muito menos ainda não havendo qualquer nome confirmado. Nesse prisma, os incrementos sucessivos no preço dos bilhetes são profundamente inconvenientes. (E aumentam até quanto?...)

Palcos? Quantos são?!... Venham eles! - CONTRA. Lá no sítio de onde eu venho, a matemática ainda é uma ciência exacta, sem espaço para libertinagens de escrita, e que nos diz, precisamente, que 4 ≠ 3. Assim sendo, não se percebe bem o que isto quererá dizer. Passo a citar:

«A programação sera [sic] distribuída por 4 palcos diferentes: o principal, que terá o nome da Optimus; o Palco All Tomorrow’s Parties (ATP), comissariado pela promotora britânica homónima, que dirige um palco no San Miguel Primavera Sound há já vários anos; e um outro palco dedicado à musica electronica, que receberá concertos e dj’s, alternando entre a música experimental e a música de dança.»

Em que é que ficamos, meus amigos? Das duas, uma: ou há um palco mistério, ou não sabeis contar. E a minha avózinha sempre me disse para não confiar em quem não saiba contar, pelo menos, até 10.
Vamos lá ver isso, sim?


Informem-se aqui e aqui e tirem as vossas próprias conclusões.

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