primavera sound em converseta

Dia 29 - Pézinho fora da cama às 7h da manhã e, já por essa altura, a expectativa e a euforia da antecipação eram difíceis de conter. O voo foi tranquilo e a chegada a Barcelona deu-se à hora prevista. Pouco antes das 13h, hora local.
Tenho de admitir que, ao primeiro contacto (para além daquela vista do ar: Barcelona é enorme!), a cidade não me impressionou por aí além. Para isso muito contribuiu o facto da viagem de comboio do aeroporto El Prat até à estação de Barcelona Sants não ser particularmente pitoresca (exceptuando a extensa zona agrícola nas cercanias do aeroporto). Mal sabia eu que o melhor ainda estava para vir.
Chegados ao nosso destino final, a Av. Paral·lel (os catalães tem esta mania curiosa de usar um ponto quando dobram os 'éles'), bagagens descarregadas na nossa simpática pensão de uma estrela, bexigas esvaziadas e colchões testados, era então altura de suprir as nossas necessidades nutricionais enquanto aguardávamos pelos outros dois companheiros de festival, que ainda estavam para chegar.
Após uma curta volta de reconhecimento pela Av. Paral·lel (que, em certos aspectos, me trouxe à memória algumas zonas de Lisboa menos interessantes) e alguns dilemas existenciais, por força das circunstâncias lá acabámos por nos dirigir a um certo antro de fast-food, onde me empanturrei com duas amanidas (não, não é nenhum prato típico de Barcelona. Mas também não vou dizer o que é, para não estragar o encanto. Quem sabe, sabe. Quem não sabe, vai ao Google, que é para isso que ele serve) e o Dan com a boa e velha hamburguesa de frango frito.
Posto isto, restante maralha reunida, tratámos de cumprir o nosso destino e dirigimo-nos ao Parc del Fòrum, onde, primeiramente, nos livrámos das burocracias de troca de bilhetes por pulseiras, cartões e kits do festivaleiro, para então fazermos a nossa primeira entrada triunfal no recinto.
O primeiro embate foi avassalador. O recinto é monstruoso, assustadoramente grande, com escadas e escadarias, subidas e descidas em toda a parte (ver o plànol aqui). Cinco palcos ao ar livre mais o auditório do fórum, e a tarefa de saltitar de palco em palco entre os concertos afigurava-se extremamente complicada, dadas as extensões que teríamos de percorrer e o tempo que não abundava.
Recuperados do choque inicial, fomos comprar os tickets que nos permitiriam mantermo-nos hidratados durante o festival, uma vez que nas bancas de bebidas não se aceitava dinheiro, após o que nos dirigimos à zona de merchandising e restante consumismo musical (a fira), onde imeditamente perdi a cabeça e tratei de comprar uns quantos discos como se não houvesse amanhã. Desta área gostaria de destacar as excelentes banquinhas da Green UFOs (um conselho: se forem a Sevilha visitem a loja), Aloud Music e BCore.
E, finalmente, era chegada a altura porque tanto ansiávamos: o primeiro concerto do 'nosso' Primavera Sound! As honras de abertura couberam aos Moho, banda madrilena adepta do doom/sludge que, não sendo particularmente original, se apresenta muito coesa e segura, o que acaba por resultar numa actuação muito pujante e praticamente irrepreensível. Uma entrada com o pé direito, portanto.
Vista a maior parte do concerto dos Moho, lá saltitámos para o palco ATP (não sem antes fazermos uma breve passagem pelo palco Rockdelux, onde os MGMT actuavam, que apenas serviu para confirmar as minhas suspeitas: banda redundante e que pouco ou nada me cativa), onde os Mount Eerie/The Microphones já tinham iniciado a sua prestação. Um registo intimista e folky num concerto deveras interessante e perfeitamente enquadrado naquele final de tarde, tranquilo e solarengo. Infelizmente, não ficámos até ao fim, uma vez que valores mais altos se iriam levantar. Era altura de regressar ao palco Vice Jägermeister para assistir à actuação dos Enon. Devo confessar que pouco conheço do trabalho da banda, mas aquilo que vi surpreendeu-me, e muito, pela positiva. Muito rock, muita garagem, muito barulho e um grande concerto. Talvez o mais memorável dos três vistos até então.
Continuando na senda do noise, seguir-se-iam os Health, pandilha de jovens californianos semi-afectados, semi-arty (nada de muito prejudicial, note-se). Novamente, não sabendo muito bem o que esperar (especialmente, porque a maioria das críticas aos concertos da banda que tinha ouvido não eram muito abonatórias), lá parti à aventura. E nada melhor que cada um ver por si para poder tecer as suas próprias considerações. Que concerto do cacete! Toda aquela esquizofrenia sonora deixou-me de queixo caído, tal era o espanto. Verdadeiramente desconcertante, no bom sentido, e a segunda agradável surpresa desse dia.
Passámos depois às lendas vivas do hip-hop (aquele realmente relevante), os Public Enemy, para rever na íntegra o álbum "It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back". O aquecimento esteve a cargo dos Bomb Squad, após o que se deu a magistral entrada em palco dos Public Enemy, para um concerto que não surpreendeu, mas também não desiludiu. Ainda assim, uma boa actuação, especialmente pelo seu valor quase-histórico... E sempre deu para treinar uns quantos moves.
Posto isto, estava na hora de recarregar baterias e atestar o depósito. Ainda tivemos tempo para dar uma espreitadela aos Portishead. Assistimos aos cerca de 5 minutos de "Roads" e demo-nos por satisfeitos. Já podemos dizer que vimos Portishead uma vez na vida! E seguimos para um dos concertos mais aguardados do festival: Boris. Apesar de os termos visto dois dias antes apenas, tal facto só serviu para aumentar exponencialmente a nossa vontade de os voltar a ver. E não falharam! Apesar de não ter sido tão monumental como o concerto em Lisboa, para o que terá contribuído o fosso enorme que separava o palco do público, cortando um pouco a ligação entre a banda e este; bem como os graves absurdamente altos, que tornavam qualquer tentativa de aproximação do palco virtualmente impossível (problema que era facilmente resolvido se nos afastássemos do palco e/ou nos desviássemos das colunas), foi, mesmo assim, um grande concerto, onde, não obstante os constrangimentos, houve ainda lugar para um dos célebres stage-divings do baterista Atsuo. Acredito piamente, e cada vez mais, que os Boris são mais um daqueles casos. Can do no wrong.
Os senhores que seguiam no cardápio eram os Caribou de Dan Snaith. Apenas uma curta mas deveras aprazível visita às interessantes electro-melodias destas gentes, uma vez que o chamamento dos Explosions in the Sky já se fazia ouvir. Chegados a um palco ATP a abarrotar, ainda conseguimos arranjar uns assentos bastante decentes no anfiteatro de cimento, de onde assistimos a uma demonstração majestosa de post-rock em todo o seu esplendor, que pecou, não por culpa da banda, mas sim pelo recinto pouco apropriado a um concerto deste género, pelo avançado da hora (1h15 da manhã, mais minuto, menos minuto) e pelo cansaço que, por essa altura, já assolava corpo e mente. Passo a explicar: o post-rock, por muito bom que seja (e, neste caso, era mesmo do melhor que por aí se faz), tende para a monotonia, com todo aquele ciclo de longo crescendo/explosão/longo crescendo/explosão/por aí adiante. O que, se uma pessoa não estiver num certo e determinado estado de espírito propício à post-rockalhada (estado de espírito esse que também implica a total ausência de um cansaço galopante), e se a envolvente não for adequada e não contribuir para todo esse mood (um espaço fechado, um pequeno auditório ou palco, intimista q.b., por exemplo), acaba por redundar numa bela soneca. E, no meu caso, não estava reunida nenhuma das condições que me permitiriam fruir plenamente da experiência post-rock.
Finalmente, e para terminar o nosso primeiro dia de aventura primaveril, dirigimo-nos ao palco Vice Jägermeister para assistir à prestação dos Vampire Weekend. Contrariamente ao que o hype poderia fazer supor, a banda apresentou-se bastante descontraída e acessível, e sem qualquer tipo de peneiras, vaidades ou afectações, presenteou-nos com um rol de canções alegres e bem esgalhadas, em formato melting pot de culturas e ritmos, conseguindo sacar uns belos pézinhos de dança da larga maioria dos presentes (eu incluída). Gostei! Sem dúvida, uma bela forma de terminar a noite.

Dia 30 - Dia do giro da praxe por Barcelona, aproveitanto o facto de só termos de estar no recinto às 19h30.
Sant Pau, Raval, Hospital, mercat de la Boqueria (ou Sant Josep, fabuloso!), mais ramblas, gazpacho num tasco castiço (a ASAE não entra aqui!), museu de arte contemporânea de Barcelona, Tallers, a Revolver, a CD Drome, mais umas quantas lojas de discos, e deixei-me maravilhar pela cidade! (O Passeig de Gràcia, as patates flamencas fregides, o Dunkin' Coffee e a Sagrada Família - que assombro! - ficariam para o Domingo da partida).
Já chegamos ao recinto um pouco atrasados, uma vez que é tarefa difícil passear por Barcelona sem perder a noção do tempo. Lá demos uma corridinha até ao palco ATP, onde os Pissed Jeans já tinham iniciado as hostilidades. Uma boa dose de atitude punk e um som cru, quase agreste, proporcionaram um grande começo para esse segundo dia.
Seguir-se-ia uma breve paragem na estação Rockdelux, onde Bishop Allen actuava (agradável, bem-disposto, mas não me encheu as medidas), antes do terminal: os No Age. Este duo de rapazes californianos apresenta um espetáculo consistente - onde a experimentação, o noise e o punk de sensibilidade arty são palavras de ordem -, ainda assim com algumas falhas, certamente devidas a alguma 'verdura' e falta de experiência. Serão concerteza colmatadas num futuro não muito distante.
Terminados os No Age, rumámos de volta ao palco ATP para um pouco de Six Organs of Admittance. Um bom concerto, embora um pouco canónico e sem grandes surpresas. E era chegada a hora de fazermos a primeira incursão do dia pelo palco CD Drome, para ver esse grande senhor que é o Bob Mould, com a sua Band. Sem artifícios, artimanhas ou subterfúgios, Mould ofereceu-nos um concerto de rock directo, simples mas extremamente eficaz, mostrando assim que a atitude in your face continua toda lá. Destaco ainda a execução irrepreensível e a voz poderosíssima daquele homem, que quase nos faz pensar que ele nem sequer precisava de microfone.
De seguida teríamos Why?, mas ainda houve tempo para duas curtas passagens pelos palcos onde actuavam os Autolux (dos muitos concertos que vi nesses três dias, posso dizer com segurança que este se encontra entre os três que menos me agradaram: enquanto os ouvia não consegui deixar de pensar em Placebo ou Muse, o que, para mim, nunca foi uma coisa boa - especialmente estes últimos) e Sebadoh (pareceu-me uma prestaçãozinha displicente, mais para encher chouriço e cumprir calendário do que outra coisa qualquer. Mas como pouco vi, não posso falar muito).
O que dizer de Why? (aka os irmãos Wolf, Yoni e Josiah, e Doug McDiarmid)? Ocorre-me o termo 'belo', mas mesmo assim seria um understatement. Uma beleza delicada, feita de pequenos pormenores, que deixa qualquer um com um sorriso nos lábios. Muito difícil de exprimir por palavras: tem que ser visto!
Com grande pena nossa, não pudemos ficar até o fim, uma vez que tínhamos que correr para o palco Vice Jägermeister. Aqui o plano seria assistir a meia hora da actuação de Why?, mais meia hora de Man Man (ambos os concertos tinham início previsto para as 23h30 e, julgávamos nós, durariam cerca de uma hora). Lamentavelmente, os Man Man tocaram pouco mais de meia hora, pelo que conseguimos apenas assistir a cerca de dois temas (nem a insistência de grande parte do público num encore surtiu efeito). Mas o pouco que vimos deixou-nos a salivar por muito mais... Não haverá por aí algum visionário que os traga a Portugal?
Depois desta pequena desilusão, tratámos de ir marcar lugar no palco ATP para os senhores que se seguiriam. Tempo ainda para um cheirinho dos Devo, para ouvir a mítica "Satisfaction", e de Polvo, dos quais eu não retive qualquer memória. Muita informação, muito concerto e a senilidade não perdoa!... Aqui há uns dias o Dan falava-me em "rock musculado", mas é inútil. Não guardei qualquer referência dessa actuação (será Alzheimer precoce?).
Graças ao nosso poder de previdência, conseguimos arranjar um lugar junto à grade, de onde pudessemos assistir condignamente à prestação dos Fuck Buttons. E que prestação essa! Verdade seja dita, Benjamin Power e Andrew Hung pouco se mexem em palco, permanecendo a maior parte do concerto frente a frente, cada um no topo de uma mesa repleta de artefactos electrónicos (um Mac, uma série de pequenos orgãos, o que se queira). O único instrumento convencional: um timbalão, a que Power, esparsamente, recorria. Mas o facto é que os Fuck Buttons não precisam de assumir determinada postura em palco para darem um grande concerto. A sua música fala por si, e a catarse é partilhada por todos.
Após mais um momento grandioso deste Primavera, uma pausa para a refeição, com acompanhamento sonoro a cargo dos The Go! Team, e lá tratámos de nos preparar física e espiritualmente para a actuação dos Om. Devo começar por esclarecer que este era um dos concertos do festival que aguardávamos com mais expectativa. Mas, com grande pena nossa, foi um dos que mais nos desiludiu. Não por culpa da banda - em termos de execução e de performance não há absolutamente nada a apontar -, mas sim devido às péssimas condições de som. O que se passou durante a actuação de Boris, repetiu-se aqui, agravado pelo facto de os Om terem apenas secção rítmica. Como poderão imaginar, a combinação 'graves absurdamente altos' mais 'só baixo e bateria' é, usando um eufemismo, letal. De tal forma que nem o afastamento estratégico do palco e das colunas ajudava. Estando demasiado próximo, o mais certo era sofrer uma lesão timpância ou um AVC; estando a uma distância mínima de segurança, o som percepcionado era enrolado e indistinto, quase como o ruído contínuo produzido por uma qualquer máquina industrial. Já para não dizer que Al Cisneros e Emil Amos mereciam um palco com uma envolvente mais propícia ao mantra. Quanto a mim, espero ter a oportunidade de os rever num local mais propício e com um som condigno, para que este equívoco possa ser desfeito.
(Uma ressalva: já por duas vezes falei aqui das más condições de som durante os concertos de Boris e Om, mas a verdade é que esses foram mesmo os dois únicos concertos em que a qualidade de som estava longe do desejável. Em todos os outros 37 concertos que vimos o som era nada menos que excelente... Os nossos festivais têm realmente muito a aprender com este Primavera Sound!).
E com isto estava praticamente terminado o nosso segundo dia de Primavera. Só mais uma corrida até ao palco Vice Jägermeister para ver os também mui aguardados Holy Fuck, cuja actuação estava prevista para as 4h30 da manhã (ainda hoje me pergunto como consegui...).
Chegados ao nosso destino, já o relógio caminhava a passos largos para as 5h, qual não é o nosso espanto quando no palco, em vez dos Holy Fuck, vemos uma figura histriónica, que parecia enquadrar-se melhor numa qualquer festa pastilhada em Ibiza do que, propriamente, no Parque do Fórum... Era o chato do El Guincho, com a sua música igualmente chata, que apesar do atraso ainda continuava a insistir "Una más?" e, mesmo sem grande resposta por parte do público, parecia ter um grave problema em afastar-se das luzes da ribalta.
Tudo bem que o tipo até é espanhol, e nisso há que dar o braço a torcer aos nuestros hermanos, porque eles têm muito orgulho neles próprios... Mas caramba!! O tipo era uma melga de todo o tamanho!!... E vejam lá se deixaram os Man Man fazer um encore perante um público sedento e suplicante?!... Enfim, passando à frente: Holy Fuck. Mais um grande concerto de electrónica, desta feita em formato analógico. É verdadeiramente fantástico ver estes tipos trabalharem em palco, e fazerem a sua música sem recorrer a um único computador ou sintetizador. Conseguiram pôr toda uma plateia em alvoroço, de tal forma que proporcionaram um dos finais mais apoteóticos de que há memória: uma invasão de palco por parte de largas dezenas dos presentes, tudo num espírito de verdadeiro divertimento. Glorioso! E mais um dia terminado em beleza.

Dia 31 - Terceiro e último dia, e os três motivos que, desde logo, me fizeram salivar por esta edição do Primavera Sound: Les Savy Fav, Menomena e Kinski.
Foi dia de ficar na cama até mais tarde, em repouso absoluto. O Dan ainda foi à cata de um par de ténis para comprar, mas nem com o argumento "Vamos àquela loja de BD que eu te falei, que tem cenas da SLG aos molhos!" me conseguiu convencer. O cansaço, que já se vinha acumulando, era muito, e queria guardar a pouca força anímica que me restava para mais um dia de concertos, que se esperavam grandiosos.
A ronda de concertos iniciou-se no auditório do Fórum, naquela que seria a nossa primeira incursão nesse espaço. Após alguma dificuldade em encontrar o local de entrada, que acabou por nos custar algum atraso, lá nos sentamos confortavelmente para assistir à prestação dos Bon Iver. Uma actuação pungente, majestosa, que não obstante a presença sóbria e recatada de Justin Vernon e companhia em palco, conseguiu comover mesmo os mais empedernidos com a sua folk de toada emotiva. Belíssimo. Seguir-se-ia, ainda no mesmo espaço, essa grande-pequena senhora que dá pelo nome de Scout Niblett e, que num registo também ele bastante despojado e intimista, inundou todo o auditório com ondas de suaves melodias, que alternavam com a crispação de autênticos delírios noise. Tudo comandado pela poderosíssima e inconfundível voz de Niblett, "ora amarga, ora doce". Foram duas excelentes escolhas para actuar no auditório.
Feitas as despedidas do auditório (os Young Marble Giants foram a baixa calculada do festival), era hora de nos dirigirmos ao palco Vice Jägermeister para ver Atlas Sound. Em formato one-man show, Bradford Cox, acompanhado pela sua guitarra e algum equipamento electrónico, mostrou-se desinibido e extremamente comunicativo, partilhando com todos os presentes, para além das suas paisagens sonoras habilmente engendradas, a sua simpatia e boa disposição, regadas com uma boa dose de sarcasmo. Sem dúvida, o Mr. Congeniality deste Primavera.
Ainda houve tempo para uma breve passagem pelo palco Estrella Damm, para um pouco de Okkervil River, que serviu para confirmar o meu crescente amor pela banda. Infelizmente, a passagem teve mesmo que ser muito breve, pois, logo a seguir, havia Lightspeed Champion no palco Vice 'néctar dos deuses' Jägermeister. Devo dizer que tinha algumas reservas quanto a este concerto, em particular quanto à pessoa de Devonte Hynes (aquela melena nunca me inspirou confiança...). Mas mau-gosto capilar à parte, o facto é que Hynes (bastante despretensioso, ao contrário do que se poderia supor) e sua banda nos proporcionaram cerca de 40 minutos de boa música pop, refrescante e bem urdida, com direito ainda a um medley de alguns temas da saga "Star Wars", que me deixou à beira das lágrimas (convém aqui esclarecer que a minha primeira opção de carreira era ser cavaleira Jedi, mas acabei por me decidir pela Biologia... Actualmente, não sei qual das duas seria mais realista, mas algo me diz que, como Jedi, me teria safado melhor... Adiante). Nada como ter conhecimento de causa para provar que estamos errados!
Posto isto, chegava a hora de um dos momentos mais aguardados desse dia e, quiçá, de todo o festival: os Kinski. Mais uma vez agarradinhos à grade do palco ATP, assistimos a uma soberba prestação da banda de Seattle que, no dia de aniversário da baixista Lucy Atkinson, nos presenteou com o melhor do seu stoner-sludge-noise-space-prog-post-rock. Expectativas mais que superadas!
E como não há uma sem duas (nem duas sem três, mas sobre a terceira falarei mais adiante), seguir-se-iam os Menomena. Quem me conhece, sabe a adoração que eu tenho por esta banda... Quem não me conhece, imagina. Portanto, escusado será dizer que, mesmo que o concerto fosse uma merda (que não foi, nem de perto, nem de longe!), iria ser, pelo menos para mim, um dos melhores do festival. E foi, de facto. Segundo melhor. Não por mim, mas por mérito da banda.
Num set que percorreu "Friend and Foe" quase na sua totalidade (álbum de 2007 aqui para o je), à excepção do primeiro tema interpretado, retirado de "I Am the Fun Blame Monster!", os Menomena proporcionaram uma experiência sensorial verdadeiramente sublime, daquelas que se guardam com muito amor e carinho, para mais tarde contar aos netinhos. Reconheço que por vezes é difícil transpor toda a riqueza musical da banda num espetáculo ao vivo, mas o facto é que eles conseguiram contornar esse obstáculo com a maior das elegâncias. Foi a definição do sonho tornado realidade!
Entretanto, tempo para mais uma curta, desta vez pela mão dos Mission of Burma (o pouco que vi não me agradou particularmente, dado que me pareceu uma actuação 'chapa-cinco'), ao que se seguiriam os grandes Shellac.
Mostrando que ser um dinossauro nem sempre é sinónimo de perda de relevância, Albini (sardónico como sempre) e sus muchachos apresentaram-nos um concerto de rock abrasivo, em que a mestria técnica era pedra-de-toque. Agradou tanto aos indefectíveis, como aos menos familiarizados com o trabalho da banda.
Assim, era chegada a altura do terceiro, e último, grande momento do dia (que, por essa altura, já se tinha transformado em noite). Apenas um reparo: se nunca viram Les Savy Fav ao vivo, acreditem que estão a desperdiçar as vossas vidas por completo. Tudo graças a Tim Harrington.
Tim Harrington que se misturava com o público para aplaudir e curtir o rock. Tim Harrington, o homem vestido de canas, qual nativo de um qualquer país exótico. Tim Harrington, o fanático dos vídeos de aeróbica dos anos 80. Tim Harrington, o karateca de peruca branca que ora despejava vodka negro por si abaixo, ora lançava confettis pelo palco (para logo depois enfiar um saco de plástico na cabeça). Tim Harrington, o super-herói da capa roxa. Tim Harrington, que conseguiu pôr toda uma plateia a rebentar pelas costuras a dançar em simultâneo, da forma mais tresloucada possível e imaginável. Tim Harrington, 'O' animal de palco por excelência. Único e inimitável. Vão por mim: vejam um concerto de Les Savy Fav... Façam o que for preciso, matem, esfolem, estripem, mutilem, mas vão vê-los ao vivo! "Puto conciertazo" indeed!
Talvez animados pela estrondosa actuação dos 'Fav, ainda conseguimos resgatar uns resquícios de energia para assistirmos a uns breves momentos das prestações de Animal Collective e Awesome Color, mas qualquer uma das duas deixou, quanto a mim, muito a desejar. Era a minha estreia num concerto de Animal Collective, e devo confessar que me agradam bastante alguns dos primeiros trabalhos da banda. Mas aquilo que se ouviu no palco Estrella Damm foi algo excessivamente techno-beat, nada orgânico, que ficou muito aquém dos melhores registos da banda. Quanto aos Awesome Color, "Electric Aborigines" ainda provocou uns quantos esgares de satisfação aqui por estes lados, mas aquele concerto algo banal pura e simplesmeste não me convenceu... Convenha-se que os Les Savy Fav também tinham deixado a fasquia demasiado alta.

E assim terminou a nossa primeira edição do Primavera Sound. O saldo foi extremamente positivo, e, apesar da exaustão, apenas lamentámos que os três dias tivessem passado tão rápido. Se o nível de qualidade se mantiver, será concerteza uma experiência a repetir.
Fica ainda o sonho - acicatado por uns flyers que estavam a ser distríbuidos no Parc del Fòrum - de nos deslocarmos a terras de Sua Majestade entre 11 e 13 de Julho deste ano, para um tal de Supersonic Festival (aceitam-se donativos)... A aventura continua?

P.S.: Depois disto, qualquer festival de Verão português me irá parecer muito pequenino...

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