pós-coura #3 - o paleio

Dia 12 – A chegada e os Devotchka
Está bem pensado, sim senhor. A Avic não tem expressos para Paredes de Coura ao domingo. Nem que esse domingo coincida com o início do festival. Mas eles lá sabem o que fazem, e concerteza que ter mais algum lucro não deve fazer parte do plano.
Assim, lá fui eu e o M.A. até Braga, de onde seguiríamos então para Paredes de Coura, graças à simpatia da Chuchu Ganza, que pôs à nossa disposição a sua viatura particular, bem como os seus dotes de motorista.
Chegados ao nosso destino final, prontamente tratámos de ocupar a casa que tínhamos alugado ao Sr. Bicho (é incrível como em pleno século XXI ainda há pessoas com alcunhas destas) e aguardar a chegada de outros 6 mânfios, e mânfias, que nos iriam acompanhar no périplo (ficaria a faltar um mânfio, que iria dar sinais de vida uns dias mais tarde, mais precisamente no dia 14).
Companhia reunida, bagagem descarregada, era chegada a hora da primeira refeição courense e do recarregar de baterias. Para o efeito, dirigimo-nos ao afamado buffet da Docelândia, onde eu descobri que vendiam sidra à pressão. Pode-se dizer que fiquei ‘sidrada’! Estava mesmo convencida que estas coisas já não existiam no nosso país, mas ainda bem que assim não é.
O jantar foi ligeiro, como exigia a ocasião, após o que fizemos a nossa primeira incursão de pelo recinto e pelo ‘sumo de lima’ (no fundo, aquilo pouco mais era do que sumo de lima!).
A noite ainda era de aquecimento (eles gostam de lhe chamar ‘recepção ao festivaleiro’), mas já prometia algumas surpresas. Os Sizo dispensámos, mas os Devotchka foram para mim uma verdadeira revelação.
Conhecia muito pouco da banda e devo confessar que vibrei com a fusão indie/mariachi/gipsy/folk e simpatia desta rapaziada! Tanto me surpreenderam que me dei por satisfeita e pouco vi dos senhores que se seguiram. Não percebi muito bem se teria sido o DJ Fra ou os Simian Mobile Disco, porque, segundo o que me disseram, houve um que cancelou a actuação, não me souberam foi esclarecer qual dos dois. Qualquer que ele fosse, não me agradou particularmente o pouco que ouvi.


Dia 13 – O álcool, os póneis e “voltem At The Drive-In, estão perdoados!”
Segundo dia e o cansaço já se começava a fazer sentir, porque isto de andar num virote de transportes públicos entre Lisboa, Braga, Gerês, Braga, Lisboa, Braga, Paredes de Coura, em pouco menos de uma semana, dá cabo de qualquer um.
Depois de um pequeno almoço revigorante e de uma ida ao Ecomarché para abastecer a dispensa, o cozinheiro de serviço para o dia, Chefe Espírito, preparou-nos um poderoso chili, cujo verdadeiro efeito só se fez sentir lá mais para o final da noite. Bem regado com a bela da Super Bock, como convém. Mas da boa, daquela de garrafinha, não da merda que eles costumam vender nos festivais!
Para resmoer, seguiu-se uma ida à relva e a minha iniciação nos meandros desse magnífico jogo de cartas que é o Continental. O resultado foi um 3º lugar que não envergonha ninguém.
Posto isto, era hora de ir vestir uns trapinhos mais adequados ao frio nocturno de Paredes de Coura e regressar ao recinto para mais uns quantos concertos.
A notícia do dia era o cancelamento do concerto de Mando Diao. Nada de muito preocupante.
As hostilidades iniciaram-se com os New Young Pony Club. Para ser franca, pensei que não me fossem agradar. Algo que não se passou. Apesar de não serem extraordinários, nem particularmente inovadores, com aquele seu electro-rock-new-rave-mais-qualquer-coisinha tão em voga nos tempos que correm, conseguiram dar um bom concerto e divertir os presentes. A vocalista, Tahita Bulmer, tem uma excelente presença em palco e a baterista, Sarah Jones, é algo de muito fantástico!
Seguiram-se os Sparta. Execráveis. Não se percebe bem o que são nem o que pretendem ser. Continuo a achar que vivem do crédito das glórias passadas (sim, eu era a gaja que gritava “AT THE DRIVE-IN!!!”). Por falar em concertos perfeitamente dispensáveis, apenas mais duas palavras: Blasted Mechanism. “We are the true revolutionaries”?? Poupem-me!! Para além de que aquelas ‘coisas’ que eles vestem devem ser extremamente incómodas.
Quanto à multi-colorida, multi-étnica M.I.A., pareceu-me um pouco deslocada, mas ainda assim penso que deu um bom espetáculo. Apesar de só ter assistido a metade, uma vez que a alcoolémia já ia alta e nem isso era suficiente para fazer esquecer o frio que penetrava os ossos.
Escusado será dizer que BabyShambles, nem vê-los. Verdade seja dita, já não há pachorra para carochos!


Dia 14 – A abstémia, a chuva, a colher e o slam dancing pré-histórico
O dia apresentava-se ameaçador e as previsões de chuva também não eram animadoras. Mas em PdC tudo é possível... Ou talvez não.
Após um manjar de refogado de perú com cogumelos e cenoura, cortesia da Chefe Chuchu, ao que se seguiu o delicioso crumble de maçã do Chefe Chico, e uma vez que o céu encoberto não augurava grandes ‘arrelvamentos’, resolvemos passar a nossa tarde no conforto do lar. Mais uma sessão de Continental e ala para o recinto, que se faz tarde.
O palco principal abriu com os fabulosos Spoon. Mereciam uma hora mais tardia, embora fossem uma óptima forma de começar mais um dia de concertos (algures por esta altura, a chuva fez a sua primeira aparição, ainda intermitente). Seguiram-se os Gogol Bordello. Nunca fui grande apreciadora, mas pensei que pudessem ser mais apelativos ao vivo. Não aconteceu. Tudo muito festivo, mas não é bem a minha praia.
Era então chegada altura daqueles que foram uma das melhores surpresas deste festival, os Architecture In Helsinki. Mais uma banda cujo trabalho era, para mim, praticamente desconhecido mas que me conseguiu agradar bastante ao vivo. Com uma dinâmica reminiscente de uns Arcade Fire (todos tocam tudo, todos cantam, todos fazem alguma coisa), montaram aquilo que eu considero uma verdadeira festa.
O que dizer de Mão Morta? Que são provavelmente a melhor banda portuguesa de rock alternativo? Que dão concertos como muito poucos sabem ou conseguem dar? Que deram um concerto muito, muito bom, mesmo sem grandes surpresas? Sim, penso que isto reflecte tudo aquilo que os Mão Morta são e representam.
É então que a chuva, já persistente, se começa a tornar bastante incómoda. E eu sem pachorra para grandes molhas e para o figurão dos New York Dolls, via AC/DC, que insistia em incitar o público a pedir mais um encore... E eu só queria que eles se calassem e parassem de tocar! Só de pensar que isso quase me custou o melhor concerto de PdC ’07...
É um truísmo: os Dinosaur Jr. deram o grande concerto deste festival. Não só por tudo aquilo que representam, mas também porque me fizeram sentir como se tivesse 16 anos outra vez! Foi curtir e saltar até o corpo não poder mais! Era ver a Ms. Oaktree, o M.A., o Dan e mais uns quantos a darem-lhe no slam dancing, circle pit, crowd surfing, all the works... Foi a verdadeira euforia adolescente dos trintões (ou quase trintões)! E assim dei o dia por terminado, com um largo sorriso estampado na fronte.
Já no ninho, houve ainda lugar para uma sessão de anedotas, que, em nome da moral e dos bons costumes, me escuso aqui a repetir.


Dia 15 – A bonança, as Electrelane, a juventude sónica e a despedida
Apesar de o dia ter começado chuvoso, o sol não tardou em dar um arzinho da sua graça.
Com muita pena minha não assisti à projecção do documentário “American Hardcore”, mas o cansaço já imperava.
Da ementa para almoço constavam os restos do chili e do refogado de perú. Eu fiquei-me pelo refogado, por causa das coisas... A tarde foi dedicada à caipirinha caseira e ao alegre convívio com mais uns quantos mânfios que entretanto se juntaram à maralha para o último dia do festival (e talvez o mais aguardado). E lá fomos nós à nossa quarta e última incursão pelo recinto...
Os Linda Martini foram uma baixa calculada. Seguiram-se as Electrelane, para mais um dos grandes concertos do festival. Genial! O rock no feminino é realmente algo de extraordinário. Também elas mereciam uma hora mais tardia.
De uma forma muito rápida, os senhores que se seguiram: Sunshine Underground, não sendo uma grande banda, pareceram-me dar um bom concerto, do agrado do público. Peter, Bjorn & John, do pouco que ouvi, pareceu-me haver vida para além de “Young Folks” (que eu abomino visceralemente), e bem mais interessante até. CSS, detesto o suficiente para saber que iria detestar o concerto. Aproveitei para passar por casa e fazer uma pausa repousante, que o corpo já estava a dar as últimas.
Seguiu-se o grande momento do festival, o motivo que levou muito boa gente até PdC: Sonic Youth. Nunca os tinha visto em concerto e, mesmo não sendo eu uma indefectível, a expectativa era muito grande.
Tenho de admitir que deram um grande concerto... Brutal, até. Mas, ainda assim, soube-me a pouco. Tudo porque tive a nítida sensação que eles são capazes de muito melhor. Por isso não foram ‘O’ concerto do festival.
E desta forma terminava para mim a edição de 2007 de PdC. Ainda tive uns lampejos inusitados de energia tardia, que me impeliam ao palco After Hours, mas o expresso às 10h30 e as malas por arrumar acabaram por ditar o recolhimento imediato.


Dia 16 – A partida e o balanço final
Malas arrumadas, pequeno-almoço engolido de um só trago, casinha às costas e era chegada a hora do “adeus, até para o ano!”, de volta a Lisboa.
A viagem de expresso foi tranquila, sem desvios. Apenas uma paragem na estação de serviço da Mealhada para esticar as pernas, esvaziar a bexiga e retemperar. O motorista era castiço, a companhia agradável e ainda houve tempo para dizer umas quantas baboseiras ao microfone da camioneta (o Dan deu grande espetáculo com a sua interpretação de “I’m Easy”, versão Faith No More, que estava a passar na rádio).

Resumindo: PdC é e sempre será PdC. É aquele sítio de que se tem saudades mesmo ainda antes da partida. Toda a envolvência, a paisagem magnífica, a euforia e boa disposição de quem lá vai, que se transmite como que por osmose (penso que é a isto que eles se referem quando falam no ‘verdadeiro espírito festivaleiro’), fazem deste festival único, inimitável e incomparável dentro do panorama nacional. Uma vez Paredes de Coura, para sempre Paredes de Coura! (ai, que é agora que eu choro!).
E depois há o cartaz, que mesmo não sendo dos mais apelativos, tem sempre vários pontos de interesse bastante fortes. A Ritmos está, sem dúvida, no bom caminho.
Os aspectos negativos são os do costume nestas ocasiões (mas nunca suficientes para manchar a imagem e o espírito deste festival): bebidas miserabilíssimas (então aquela água Vimeiro sem gás é perfeitamente intragável... E se a água já é má, o que dizer do álcool??...), alimentação ainda pior (de lamentar a redução da zona de alimentação no interior do recinto), casas de banho insuportáveis (este ano nem aquelas dos contentores, com os sanitários em loiça, escapavam... Um vómito autêntico!) e alguns problemas de som, nada de muito grave (mais notórios durante a actuação de Dinosaur Jr., que, a espaços, tornavam a voz do J. Mascis praticamente inaudível).

E para terminar, deixo-vos com o meu Top 5 de concertos de PdC ’07 (não está aberto a discussão):
1º Dinosaur Jr.
2º Electrelane
3º Spoon
4º Architecture In Helsinki
5º Sonic Youth
(Se fosse Top 7, seria: 6º Mão Morta; 7º Devotchka. Mas como não é...).

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