“you needn’t call it music if the term offends you”

Locust - “New Erections” (2007, Anti-)
Holy Molar - “Cavity Search EP” (2007, 31G)


A meu ver, há dois tipos de bandas: aquelas que, por muito que as oiçamos (por muito que nos sejam impingidas?), persistem em passar-nos ao lado e aquelas outras às quais não conseguimos ficar indiferentes. Ou se adoram, ou se detestam. A inclusão de amor e ódio no mesmo grupo é propositada, pois as as vias bioquímicas seguidas por estas duas emoções são bastante idênticas.

Os The Locust (perdoem-me a redundância) incluem-se neste segundo grupo. E posso-vos afiançar que eu própria já passei por ambos os extremos do espectro das emoções humanas relativamente a estes tipos.
Tudo começou há cerca de 6 anos, quando os At The Drive-In resolveram apadrinhar uns tais de Locust. Como criatura naturalmente curiosa que sou, resolvi investigar. E devo confessar que não gostei nada do que ouvi. Ou melhor, achei-os visceralmente detestáveis. Acontece que, qual doença degenerativa que lenta e irremediavelmente vai consumindo o organismo, também eu acabei por me converter à praga.
Talvez isto tenha coincidido com a minha redescoberta dos prazeres da lesão timpânica, ou talvez se relacione com a minha propensão para apreciar tudo aquilo que irrita as elites auto-proclamadas. O facto é que os Locust são uma banda condenada a provocar reacções, sejam elas boas ou más.

A sua recusa obstinada do dogma 4/4 e a passagem de uma editora idependente para uma major, que imediatamente lhes garantiu o epíteto de “vendidos”, valeram-lhes uma espécie de linchamento público por parte de uma certa facção do punk-hardcore, que se caracteriza por condenar todos aqueles que ousem rejeitar os cânones musicais professados e, particularmente, todos aqueles que se “vendam” ao sistema.
E, ignomínia das ignomínias, estes infames ainda têm o desplante de se multiplicarem em projectos paralelos, suficientemente semelhantes para que quem os odeia, os odeie ainda mais, mas suficientemente diversos para continuarem a ser interessantes e vitais (Holy Molar, Head Wound City e Some Girls). Para além de vários dos seus membros terem ainda feito parte de outros tantos ícones da cena hardcore norte-americana (Swing Kids, Struggle, Cattle Decapitation, The Crimson Curse, etc.).

Não me atrevo a dizer que os Locust são uma banda de digestão fácil, muito menos que a sua música é adequada a ouvidos mais sensíveis. De facto, eles são dignos do nome que carregam.
Como o som produzido por um enxame de gafanhotos a dizimar mais um campo de cultura (chamem-lhe spazzcore, chamem-lhe o que quiserem). Mas há pragas assim, que “primeiro estranham-se e depois entranham-se”.

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