era um salazar em cada esquina!

É oficial: mais de 200 000 portugueses têm saudades de Salazar. Cerca de 2% da nossa população deseja, de facto, ter um Salazar em cada esquina (sera que alguém acha realmente que 2% é uma percentagem representativa de alguma coisa?). Ou é isso, ou então é o lobby “façam-uma-magia-negra-para-trazer-Salazar-de-volta-da-tumba”, conjuntamente com aquele outro do “Salazar-está-vivo-e-é-ele-que-vai- voltar-numa-manhã-de-nevoeiro-e-não-aquele-outro-senhor”, que aderiram em massa ao uso dos telefones e telemóveis.

Justificações para este estranho resultado (será mesmo?) há muitas, a mais plausível das quais me parece ser: as pessoas são estúpidas.
Partindo do princípio que as pessoas têm bem presente o conceito de ditador, bem como tudo aquilo que ele implica, e uma vez que vivemos numa era em que estamos todos mais ou menos de acordo que a ditadura é um regime, vá lá, pouco ‘saudável’, depreende-se que há, pelo menos, 2% da população portuguesa realmente muito estúpida, ou com uma memória muito curta, ou que beneficiou com um regime que a quase ninguém beneficiava, ou que não sabe de todo quem foi Salazar.

Deixem-se de tretas, que isto não passou de um voto de protesto contra o estado da nação e contra as nossas classes dirigentes, porque alguém que toda a sua vida foi anti-salazarista nunca poderia, em seu perfeito juízo, eleger precisamente o objecto da sua objecção, alguém que desaprova profundamente.
Reflictam por um momento. Alguém acha que um judeu alemão iria votar em Hitler como forma de protesto contra o governo de Angela Merkel?
Para mais, um verdadeiro voto de protesto contra a classe política seria eleger um artista, um humanista, um cientista, vá, um miúdo dos “Morangos com Açúcar” (isso sim mostra um total desprezo pelo que quer que seja), e não, justamente, um estadista.

Em jeito de conclusão, apraz-me dizer que há cerca de 2% de portugueses que merecem o país que têm. Quem glorifica a miséria, a intolerância, a mesquinhez, a pequenez de espírito, a mediocridade e a ignorância não mais merece do que um país onde elas grassem.


P.S.: Como já várias individualidades da nossa praça apontaram, não deixa de ser irónico que um homem que desprezava a democracia e o voto livre e em consciência tenha sido eleito democrática e livremente.

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